Sexta-feira, 29 de Setembro de 2006
Suscitar vocações é uma responsabilidade de todo o povo de Deus e de cada comunidade cristã. Na Exortação Apostólica “Dar-vos-ei Pastores”, João Paulo II insiste especialmente neste ponto de que devemos começar a preparar nas paróquias um terreno fértil para que a acção de Deus se desenvolva e o Seu apelo possa ser ouvido e seguido. Para que estes primeiros passos possam ter possibilidades de sucesso é preciso estar convicto de que todos os membros da Igreja, sem excepção, têm a graça e a responsabilidade do cuidado pelas vocações” (nº 41).
Toda a comunidade cristã normal deve ser, pois, por natureza, “casa e escola vocacional” que faz despertar e crescer, de modo normal, as vocações normais a partir da fé vivida e testemunhada como apelo. A casa evoca o ambiente vivencial; a escola evoca a aprendizagem, a formação. Assim, o clima de fé, oração, comunhão, alegria, maturidade espiritual, caridade e testemunho faz da comunidade o terreno propício não só ao desabrochar de vocações, mas também à criação duma cultura vocacional.
Em ordem à consciencialização das comunidades e à sua maior corresponsabilidade nesta tarefa, peço ao Secretariado Diocesano da Coordenação Pastoral a elaboração de algumas catequeses que poderão ser feitas quer nas paróquias, quer a nível de vigararia, durante a Quaresma.
Mas, como num jogo em equipa, há que ter animadores. Por isso, em cada paróquia ou vigararia será desejável a criação de um “Grupo de Animadores Vocacionais”. É um ministério novo que se vai configurando dentro da comunidade, ao qual se confia o mandato da animação vocacional.
D. ANTÓNIO Marto, Bispo de Leiria - Fátima
Quarta-feira, 6 de Setembro de 2006
Pedi uma audiência ao Presidente da Conferência dos Bispos do Brasil e ele recebeu-nos na Casa Episcopal de Mariana.
Os lavradores expuseram os seus problemas e mostraram os pontos em que a Igreja os poderia ajudar. D. Luciano parecia dormir e os lavradores faziam sinais a perguntar-me se deviam continuar ou deixar o arcebispo dormir.
Quando terminaram, ele abriu os olhos e disse: “podemos resumir tudo em três pontos… e poderemos fazer o seguinte…” Ficámos boquiabertos.
O homem não dormia. Quando era Bispo Auxiliar de S. Paulo e, ao mesmo tempo, secretário e depois Presidente da CNBB, a sua casa era o socorro das crianças de rua. Chegava altas horas da noite e encontrava a porta atravancada por crianças. Ouvia-as uma a uma, encaminhava os problemas. Não dormia enquanto elas não estivessem descansadas.
Por causa da violência contra os lavradores, pedimos uma audiência ao presidente da Câmara dos deputados. Fomos, apoiados por Dom Luciano e Adolfo Esquivel, Prémio Nobel da Paz pela sua luta em favor dos direitos humanos. D. Luciano tivera um dia cheio de trabalho em Mariana, com ordenação sacerdotal ao ar livre. No seu rosto, vermelho de um lado, brilhava o calor da serra de Mariana. Para chegar a Brasília, fizera uma viagem de duas horas de carro e uma de avião. Esperámos de pé, numa sala sem cadeiras. Enviámos um recado ao secretário do Presidente da Câmara a mostrar o desrespeito para com o Presidente da CNBB. Veio um Vice-Presidente constrangido: “Os deputados estão a discutir o seu salário e não chegam a acordo”. D. Luciano respondeu calmamente: “Está a ver: enquanto tanta gente sofre e morre injustamente no Brasil e os deputados ocupam-se de si mesmos. Esperamos mais um quarto de hora.” Era meia noite. D. Luciano só descansaria depois de ler a correspondência de duas semanas.
Quando foi nomeado Arcebispo de Mariana, no centro de Minas, o clamor foi geral. Como pode um homem com esta dimensão ser encerrado entre montanhas? O Vigário Geral não podia compreender as suas constantes viagens dentro e para fora da Diocese. “É um bom sacerdote mas nunca ultrapassou a serra que está na frente do Paço” – dizia D. Luciano. Para ajudar o seu clero a descobrir o mundo e rasgar horizontes, cedeu padres para um monte de dioceses. A salvação da diocese está em tornar-se missionária.
Um santo plenamente inserido no mundo. Um jesuíta de pé no chão e horizontes universais. Chamava pelo nome a uma enormidade de pessoas e apoiava causas nos mais diversos cantos do mundo, assumindo compromissos arriscados. Perguntaram-lhe um dia qual o momento mais feliz da sua vida. Respondeu que foi feliz toda a sua vida. Mas apontou alguns momentos em que presenciou os maiores dramas humanos no Brasil, em El Salvador, no Líbano, na Índia. Foram os momentos em que sentiu mais a presença de Deus na História.
Foi um dos Bispos mais importantes nas conferências latino-americanas de Puebla e Santo Domingo. Dizem que as comissões de Santo Domingo chegaram aos últimos dias sem um texto que pudesse ser publicado. D. Luciano comprometeu-se a dar forma às reflexões dos Bispos. Juntou um grupo de secretários e trabalhou dia e noite. E os bispos tiveram um texto para votar.
A sua família (Condes Mendes de Almeida) era originária da Diocese do Brejo, Maranhão, mas ele já nasceu no Rio de Janeiro. Recebeu uma preparação cultural invulgar que lhe deu uma segurança para navegar com simplicidade.
“Humano! Profundamente humano! Sabia dialogar com sabedoria, respeito e firmeza, com todo tipo de autoridade: Papa, Presidente da República, Ministros de Estado, Diplomatas, Militares. Sabia, igualmente, levar um papo amigo com o pipoqueiro da praça, que, aliás, mereceu um artigo em sua coluna semanal na Folha. Que o digam também os mendigos do entorno da Igreja do Belém. Quando a ocasião exigia era brilhantemente lúcido. Arguto. Convincente. Suas idéias, antes de se tornarem palavras nos lábios, eram banhadas por seu coração evangélico. Por vezes, brandiam-se como espadas de dois gumes, especialmente quando se tratava de defender o direito e a dignidade da vida dos pobres, dos menores, dos povos indígenas, dos trabalhadores; enfim, daqueles que, em nossa sociedade, estão à margem, sem voz nem vez. Seu rosto então se iluminava tomado de santa ira e indignação. “ (P. Tarcísio Nadai)
“Com tudo isso dom Luciano viveu uma vida de amor. Amou muito e também foi muito amado. Poucos talvez tenham sido tão amados por tantas pessoas de tantos grupos humanos diferentes. Era tão humano que não se podia não amá-lo.” (P. J. Comblin)
P. Jerónimo Nunes
Segunda-feira, 7 de Agosto de 2006
Nós, membros do grupo de discussões Cristãos Reformados, evangélicos de várias confissões protestantes, por meio deste manifesto, expressamos publicamente a nossa indignação quanto ao recente escândalo da "CPI dos Sanguessugas" que envolve parlamentares da bancada evangélica. Como cidadãos brasileiros e como cristãos é com tristeza e vergonha que lamentamos a falta de ética e os pecados da mentira, cobiça e furto desses que estão sendo investigados por corrupção. Tais fatos são um desrespeito a cada brasileiro e uma afronta à nossa fé e a Deus – cujo Nome esses parlamentares carregam. Pedimos às autoridades competentes que exerçam, com justiça e responsabilidade, a punição dos indiciados. Esperamos também que, com o mesmo rigor, sejam disciplinados em suas igrejas.
Por isso, é preciso que a sociedade brasileira tenha conhecimento de que muitos dos herdeiros históricos da "Reforma Protestante" não observam passivamente essas denúncias e nem aprovam a prática desonesta na política de qualquer cidadão – muito menos quando ela ocorre pelas mãos de evangélicos deste País. Vários de nós, como os integrantes deste grupo, não só protestamos contra o baixo nível ético que assola a nação, como também ficamos perplexos pela falta de compromisso doutrinário e espiritual com os princípios cristãos que presenciamos nas igrejas evangélicas brasileiras.
Lamentamos que, assim como o cristianismo do século XVI estava em decadência, manchado pela imoralidade de seu clero, escândalos de simonia, venda de indulgências, sede de poder, distorção doutrinária e podridão espiritual, as igrejas evangélicas brasileiras padeçam, hoje, de males semelhantes ou até piores que aqueles. Contra isso levantamos o nosso protesto, fundamentados nos cinco pilares da Reforma Protestante: Sola Scriptura, Solo Christo, Sola Gratia, Sola Fide e Soli Deo Gloria. Esses princípios divinos são extraídos das Sagradas Escrituras e denunciam a falta de temor a Deus, o caos ético e moral, e o vergonhoso procedimento de igrejas e líderes evangélicos presentes em nossa sociedade.
1. Sola Scriptura – somente pela Bíblia
Protestamos contra o abandono da Sola Scriptura. Reafirmamos que somente a Bíblia deve ser nossa única regra de fé e prática, a "carta magna" dos evangélicos. Assim o fazemos pois cremos que Deus é seu Autor. Hoje, muitos evangélicos pregam, não a Bíblia, mas o personalismo, o materialismo, o curandeirismo, o profetismo, a auto-ajuda e o misticismo. Tudo isso escorado em falsas visões e revelações, as quais contradizem o ensino claro da Palavra de Deus. Protestamos contra todo tipo de bispo, apóstolo, pastor que colocam sua palavra no mesmo grau de autoridade da Bíblia. Protestamos ainda contra a falta de incentivo dos líderes em estimular os leigos à leitura da Bíblia, criando, assim, um ambiente que permita o questionamento e o aferimento dos ensinos e do modo de vida da própria liderança.
2. Solo Christo - somente por Cristo
Protestamos contra o abandono da doutrina do Solo Christo. Reafirmamos que a salvação de cada homem ocorre somente por meio da obra infalível de Jesus, o Cristo. Muitas igrejas evangélicas brasileiras não mais anunciam "somente Cristo", mas sim a salvação mediante exorcismos, dízimos e uma obediência cega aos líderes, os quais, na verdade, são falsos mestres que, pregando a si mesmos, adicionam outras obras como necessárias à salvação. Assim, por sórdida ganância, enganam o povo. Essas mazelas no meio dos cristãos já foram profetizadas pelo próprio Messias, como bem demonstram os Evangelhos e as epístolas de Paulo, Pedro e João. Somos bem-aventurados quando perseguidos somente por causa de Cristo, mas jamais pelo mau testemunho dos cristãos evangélicos.
3. Sola Gratia – Somente pela graça
Protestamos contra o abandono da doutrina da Sola Gratia. Reafirmamos que é Deus, somente por sua graça, Quem vai ao encontro do homem para salvá-lo. Protestamos contra as mais variadas barganhas em troca de favores divinos. Protestamos contra um "evangelho" antropocêntrico, centrado no homem. Protestamos contra uma igreja que se preocupa mais com o marketing e outras formas de agradar sua clientela, do que proclamar a simples mensagem da maravilhosa graça por meio de Cristo Jesus aos pecadores. Protestamos contra a pregação de uma graça barata que não fala do arrependimento dos pecados e da necessidade do poder transformador de Deus para viver a vida cristã. Protestamos contra quaisquer outros meios estranhos aos ensinos das Escrituras para a obtenção da salvação ou qualquer outra graça.
4. Sola Fide - Somente pela fé
Protestamos contra o abandono da doutrina da Sola Fide. Reafirmamos, neste nobre estandarte do protestantismo, o ensino da justificação do homem somente pela fé, e não por meio de quaisquer obras. Assim cremos, pois a Bíblia afirma não haver obra humana capaz de cobrir o pecado. A fé, pura e simples em Jesus, é suficiente porque a Sua obra é suficiente para salvar o pior dos pecadores. Protestamos contra a ressurreição de novas formas de indulgências que obscurecem a salvação somente pela fé. Exemplo disso é a compra de “objetos abençoadores”, aquisição de produtos ungidos e pregação de fórmulas de prosperidade financeira e emocional. Protestamos contra coerção para a entrega de bens e dinheiro, abusando da boa fé e ingenuidade dos fiéis que, assim, tornam-se presas de lobos disfarçados de pastores. Protestamos contra o abandono do princípio de doações voluntárias segundo o exemplo do livro de Atos dos Apóstolos e a recomendação da Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios. Protestamos contra as igrejas evangélicas que associam a salvação à qualquer observância de regras extra-bíblicas que não podem salvar o homem de seu pecado e muito menos conduzi-lo verdadeiramente a Deus.
5. Soli Deo Gloria – Somente para a glória de Deus
Acima de tudo, protestamos contra o abandono da doutrina da Soli Deo Gloria. Reafirmamos que toda glória seja dada somente a Deus. Protestamos contra evangélicos que glorificam suas próprias obras, suas igrejas, seus templos, seus líderes e seus fiéis, mas não glorificam com suas vidas ao Deus Único e Verdadeiro. Protestamos contra aqueles que quebram a Lei de Deus, especialmente os Dez Mandamentos, para executar sua própria lei, roubando, mentindo, enganando a sociedade brasileira e maculando o sublime nome de Cristo do qual afirmam que são discípulos. Protestamos contra a prática pecaminosa e imoral de agentes políticos para beneficiar somente às igrejas evangélicas ao invés de se buscar o bem comum a todos os cidadãos brasileiros. Protestamos contra líderes
que oferecem seus púlpitos à propaganda política em troca de favores. Protestamos contra todos aqueles que ambicionam a sua própria glória. Protestamos contra a quebra egocêntrica dos dois maiores mandamentos: amar a Deus e ao próximo.
Final
Por fim, apesar da vergonha que temos tido por levar sobre nós o nome de "evangélicos", reconhecemos que nem todos os chamados por esta alcunha têm agido de forma vergonhosa e antibíblica. Há, ainda, pastores e igrejas vivendo de modo íntegro o verdadeiro Evangelho de Jesus. Existem os que verdadeiramente são perseguidos por causa de Cristo. Muitos ainda têm as Sagradas Escrituras como única regra de fé e prática. O rebanho do Pastor supremo tem sido guiado ainda por genuínos cajados. São cristãos evangélicos que, assim como nós, protestam contra igrejas que se dizem herdeiras do protestantismo, mas que se distanciaram dos fundamentos da Reforma Protestante.
Suplicamos a Deus que tenha misericórdia de nossas igrejas, pois sabemos que o julgamento do Supremo Juiz começará na Sua própria casa. Suplicamos pelo Brasil para que tenha governantes dignos da imagem de Deus que carregam – sejam eles evangélicos ou não. Suplicamos a Deus por nossos pecados. Humilhamo-nos diante de Cristo como cidadãos brasileiros e cristãos evangélicos suplicando ao Senhor por verdadeiras reformas em nossas vidas e neste amado País, o qual a Providência nos deu para bem cuidar como fiéis mordomos.
A Deus somente toda a glória!
Respeitosamente ao povo brasileiro,
Cristãos Reformados
Brasil, Julho de 2006.
Sexta-feira, 4 de Agosto de 2006
Virgem de Luz e de beleza interior,
Ensina-nos o teu segredo.
Virgem, de carinho fraterno,
Ensina-nos o teu segredo.
Virgem forte e terna,
Ensina-nos o teu segredo.
Virgem silenciosa e de fé inquebrantável
Ensina-nos o teu segredo.
Virgem sincera e humilde
Ensina-nos o teu segredo.
Maria cheia do Espírito Santo,
primeira cristã, roga por nós.
Maria de Nazaré, Mãe das coisas simples
De cada dia, ensina-nos o teu segredo.
Mãe da grande Comunidade dos amigos
De Jesus, roga por nós.
Em Jesus, Caminho e Porta do céu,
Roga por nós.
Maria e Mãe do céu da nossa alma,
Roga connosco.
Grande «louvor de glória» da
Santíssima Trindade, roga connosco.
Isabel da Trindade
Sábado, 15 de Julho de 2006
Por aqui está tudo bem.Cheguei ontem, quinta à tarde da visita pastoral a
Kanakasse, uma aldeia no meio do mato, a 120km daqui e que demora 6 horas a
fazer. Na estação das chuvas é impossível. Foi uma experiência indescritível
e única.
Fui com o P. Aníbal e 6 Catequistas. Fomos deixando as pessoas nas aldeias e recolhendo-as na volta. Eu, o Padre e 2 catequistas fomos até ao extremo do município da Kilenda, que também pertence a esta paróquia, a uma aldeia que se chama Longania, mas não pudemos ficar porque as pessoas estavam a morrer de cólera nesta semana.
Assisti ao enterro de uma criança de 12 anos. Uma das pessoas que me cumprimentou, possivelmente já estava infectada, pois tinha diarreias fortes. Como ando sempre com comprimidos deixei;lhes uma caixa de Dimicina, pelo menos para lhe dar alguma esperança. Tinha levado também e não sei como, alguns toalhetes desinfectantes que utilizamos depois para nós. Como não havia condições para permanecer, viemos para trás e ficamos os 4 dias em Kanakasse, e assim podemos avisar algumas autoridades do que se estava a passar.
A estadia nesta aldeia foi das coisas mais belas que me aconteceu na vida. Celebrámos a Eucaristia e rezámos com eles. As casas cobertas de colmo feitas com paus a pique, só com a luz fabulosa da lua, Sem água, mas como a levamos daqui pudemos cozinhar com alguma segurança. As pessoas e em especial as crianças de uma beleza e simpatia únicas. Um ambiente o mais tribal e primitivo que pode imaginar. No entanto sempre muita alegria. Brinquei com elas numa roda gigante e ensinei~lhes jogos Malha, salto do cavalo, macaca. Parecia um tonto. Como era bom partilhar tudo isto com os
meus amigos e família. Dormi numa esteira com um saco cama emprestado e foi
o máximo, 7 horas seguidas de viagem.
O único problema era a casa de banho, para urinar tinha de andar um bocado. Estive 4 dias sem tomar banho, mas mesmo assim sentia-me bem e muito feliz. Foi á minha primeira experiência missionária a sério. Para me libertar fiz tudo para me esquecer da máquina de fotos. Tenho de voltar lá. E aí levo coisas que apontei e que são necessárias.
Eduardo Souza
Missionário da Boa Nova em Angola
Sábado, 3 de Junho de 2006
Respeita toda a vida, Rejeita a violência, Partilha com os outros, Escuta para entender
Preserva o planeta, Redescobre a solidariedade
Assumindo a minha quota de responsabilidade perante o futuro da humanidade, especialmente perante as crianças de hoje e de amanhã, comprometo-me, na minha vida diária, na minha família, no meu emprego e no meu país, a:
- respeitar a vida e a dignidade de cada pessoa, sem discriminações nem preconceitos;
- praticar a não violência activa, recusando a violência em todas as suas formas: física, sexual, sociológica, económica e social, particularmente em relação aos mais débeis e vulneráveis, como as crianças e os adolescentes;
- repartir o meu tempo e os meus recursos materiais, cultivando a generosidade a fim de pôr fim à exclusão, à injustiça e à opressão política e económica;
- defender a liberdade de expressão e a diversidade cultural, privilegiando a escuta e o diálogo, sem ceder ao fanatismo, à maledicência e à discriminação dos meus semelhantes;
- promover um consumo responsável e um modelo de desenvolvimento que tenha em conta a importância de todas as formas de vida e o equilíbrio dos recursos naturais do planeta;
- contribuir para o desenvolvimento da minha comunidade, propiciando a plena participação das mulheres e o respeito pelos princípios democráticos, e promovendo novas formas de solidariedade.
Adolfo Pérez Esquível, Dalai Lama, David Trimble, José Ramos-Horta, Mikhail Gorbachev, Nelson Mandela, Rigoberta Menchu, Shimon Peres e os bispos Desmond Tutu e Ximenes Belo, são alguns dos primeiros subscritores do manifesto
(UNESCO.org">http://www.UNESCO.org).
Adital - Viver é mudar permanentemente. No nosso corpo, as células se renovam a cada instante. O ser humano é caracterizado pela capacidade de transformar o mundo e, ao mesmo tempo, adaptar-se, cada vez, às condições da vida. Assim, o sangue dos índios que vivem no altiplano andino a mais de 4000 metros de altitude tem uma textura que o torna mais fino do que o de quem vive no nível do mar. Nesta missão de fazer história e cultura, o ser humano é chamado a construir-se a si mesmo e a cuidar amorosamente do planeta Terra e da vida. Infelizmente, como diz acertadamente sua Santidade, o Dalai Lama: "Nos últimos quatrocentos anos, o ser humano adquiriu um imenso poder técnico, mas não parece ter acumulado nenhuma sabedoria".A partir de Fóruns Mundiais e Regionais, grande parte da humanidade busca "um novo mundo possível". Neste processo, a maioria das pessoas descobre que esta tarefa da transformação do mundo inclui, necessariamente, uma viagem ao mais interior e profundo do ser humano para renovar a sua capacidade de amar, reconciliar-se e viver a criatividade a serviço da vida. A Bíblia considera esta capacidade um dom que Deus disponibiliza para todas as pessoas que aceitam abrir-se ao diferente e deixar-se conduzir pelo amor. Diversas tradições espirituais estão de acordo que esta energia profunda que renova o ser humano é o próprio Espírito que nos diviniza. Cada ano, no final do tempo pascal, as Igrejas celebram o domingo de Pentecostes, ao qual a devoção popular chama de festa do Divino, para agradecer ao Pai o envio do Espírito, mãe de amor que enlaça todo o universo com sua ternura e nos renova em sua sabedoria. O mundo, mergulhado na injustiça e na violência, vive a carência profunda de um Pentecostes, não para converter a humanidade a uma determinada religião, mas para fortalecer um movimento de diálogo entre as culturas. Conforme o Novo Testamento, o primeiro sinal de Pentecostes foi o fato de pessoas de línguas e culturas diferentes passarem a se compreender (At 2). Para confirmar que o verdadeiro saber não é apenas técnico, mas principalmente ético e espiritual, vários cientistas da Universidade de Harvard (nos Estados Unidos) que receberam prêmios Nobel, uniram-se para publicar um apelo: 1 - Aos homens e mulheres que têm a Política como profissão, advertem que se não se tomarem medidas sociais e políticas contrárias a estas que hoje são oficiais, pelo ano 2030, o planeta terra e toda a vida nele contida serão ameaçados de modo irreversível. 2 - Aos espirituais, os cientistas pedem que reeduquem a humanidade para a dimensão do sagrado. Somente uma nova espiritualidade de paz e amor ao universo nos salvará a todos. Alguém poderia estranhar que estes cientistas não se tenham dirigido diretamente a líderes das religiões instituídas. As religiões têm por função ajudar a humanidade a se abrir ao Espírito de Deus e viver sob sua inspiração. Por que, então, o Manifesto não se dirige às religiões? Hoje, todas as grandes religiões se defrontam com doenças como o fundamentalismo e o fanatismo em muitos de seus membros. No lugar de serem fermento de paz e unidade no mundo, as religiões têm sido responsáveis, ao menos em parte, por mais da metade das guerras que assolam a humanidade. Os cientistas apelaram às pessoas espirituais, tanto as que pertencem a uma religião organizada, como as que buscam a Deus por caminhos menos institucionais, confirmando que o mais importante de tudo é a nossa abertura ao Espírito de Deus. Todo culto e festa cristã é louvor a Deus Pai, em nome de Jesus e na comunhão do Espírito Santo. Entretanto, no decorrer dos séculos, as Igrejas tradicionais do Ocidente não acentuaram suficientemente a centralidade do Espírito, na mística, na teologia e na sua disciplina e missão. Paul Evdokimov, um dos maiores teólogos ortodoxos desse século, escreveu: "Quando uma Igreja se esquece do Espírito Santo na sua vida e na teologia, substitui a Deus por Jesus Cristo, tomado isoladamente em si mesmo, ao contrário do que Ele sempre nos ensinou sobre si mesmo. Quando isso acontece, essa Igreja perde a sua liberdade profética e deixa de testemunhar que Deus diviniza toda a humanidade. Esta Igreja esquece que toda pessoa batizada é sacerdote de Deus e criatura nova. Torna-se clerical e a hierarquia passa a existir só para exigir obediência e submissão de todos". Certamente, por causa disso, foi no Ocidente, que, no início deste século surgiu o Movimento Pentecostal, proclamando a atualidade da vinda do Espírito Santo que refaz, hoje, nas comunidades, os mesmos prodígios do início do cristianismo. A maioria das Igrejas não foi capaz de compreender o "Pentecostalismo". Estes irmãos, excluídos por suas confissões de origem, fundaram Igrejas Pentecostais que, hoje, enfrentam o mesmo desafio. Se se institucionalizam demais, se tornam tão pouco pentecostais quanto aquelas de onde saíram. Esse domingo no qual, muitas comunidades cristãs encerram as festas pascais, contemplando a vinda do Espírito Santo sobre os primeiros discípulos do Cristo, nos ajuda a compreender que todos nós, cristãos, somos chamados a ser verdadeiramente pentecostais, como Jesus Cristo. Seremos pentecostais quando nos deixarmos realmente conduzir pelo Espírito de Deus. Atingiremos, então, a liberdade espiritual de pessoas maduras em Cristo, críticas com relação ao mundo e capazes de amar e servir aos irmãos, não só individualmente, como no nível comunitário e social. Esta definição pode parecer ideal e nos revela que é mais fácil se dizer carismático e pentecostal do que sê-lo verdadeiramente. Não digo isso para criticar ou menosprezar os grupos e pessoas que assumem a identidade pentecostal ou carismática, mas para confirmá-los na busca deste caminho. Serafim de Sarov, espiritual russo do século passado, respondeu a um irmão que queria ser introduzido na vida de oração: "O verdadeiro objetivo da vida cristã é adquirir o Santo Espírito de Deus". O nosso olhar deve estar suficientemente aberto e atento às profundezas misteriosas onde o Espírito habita. Então, o reconheceremos presente em todas as culturas e religiões e Ele nos inspirará no caminho da paz e da comunhão com o universo. Desde séculos antigos, no Domingo de Pentecostes, as comunidades católicas e ortodoxas iniciam a celebração cantando: "O Espírito do Senhor, o universo todo encheu. Tudo abarca em seu saber, tudo enlaça em seu amor, aleluia, aleluia!" (Cf. Livro da Sabedoria 1, 7). Marcelo Barros Monge beneditino e autor de 26 livros. mosteirodegoias@cultura.com.br